Queridas irmãs da amada Ordem da Imaculada Conceição de Santa Beatriz da Silva, chegue a todas e a cada uma de vocês minha fraterna e carinhosa saudação com as palavras reveladas pelo Altíssimo ao Pai São Francisco: O Senhor lhes dê a paz (Test 24).
Ainda está muito viva em meu coração a lembrança do encontro que tivemos em Toledo, de 24 de maio a 4 de junho deste ano. Quantas vezes me senti na obrigação de agradecer ao Senhor a graça desse encontro, durante e depois de sua celebração! Quantas vezes brotou e ainda brota em meu coração e em meus lábios um canto de louvor ao Altíssimo e bom Senhor pelo dom das Irmãs Concepcionistas Franciscanas!
Recordando aqueles dias, posso dizer que, para mim, o encontro de Toledo foi sobretudo uma experiência de alegre fraternidade e de profunda comunhão entre as irmãs, mas também entre as irmãs e os irmãos e, por isso, entre as duas Ordens irmãs: a Ordem dos Frades Menores e a Ordem da Imaculada Conceição. Realmente, experimentamos a graça da unidade na diversidade. Foi também um momento de reflexão e de estudo sobre temas muito importantes para nossa vida, como a formação, inicial e permanente, a contemplação e a missão. Por isso, para mim e, certamente, para vocês também, o encontro foi um tempo forte de formação permanente. Por fim, o encontro foi uma celebração de ação de graças ao Pai pelo dom de Maria, Imaculada em sua Conceição, pelo dom de Francisco e de Beatriz e pelo dom de nossa vocação como Irmãos Menores e Irmãs Concepcionistas. Como foi bom sentir-nos irmãos e irmãs, não só por motivos históricos e de recíproco afeto, mas sobretudo em Maria Imaculada, que os Mestres franciscanos defenderam nas cátedras e propagaram através de seus escritos e dos púlpitos, e que vocês, queridas irmãs, querem cantar e celebrar com sua vida, toda ela a serviço daquela que Francisco canta como palácio, veste e tabernáculo de Deus e que teve e tem a plenitude da graça e todo o bem (cf. SM 3-4). Pelo encontro e por todos os que o tornaram possível, alegro-me no Senhor (Is 61,10).
Aproveitando agora a ocasião que me oferece a festa litúrgica de Santa Beatriz da Silva, desejo manifestar-lhes, mais uma vez, minha proximidade fraterna e, já que me pediram, através desta Carta, quero tornar-me presente em sua caminhada de fidelidade criativa, recordando-lhes algumas prioridades que devem ter presente em sua vida de contemplativas franciscanas.
Em suas vidas, dêem prioridade absoluta ao Senhor
O Senhor entrou em suas vidas e roubou-lhes o coração, como o esposo do Cântico dos Cânticos roubou o coração da esposa. Desde então, vocês já não se pertencem. Mendicantes de sentido, também vocês se puseram a caminho para buscar a plenitude. Então o Senhor deixou-se encontrar por vocês e, como para a Samaritana, mostrou-lhes que somente ele pode saciar sua sede e, como a Francisco e também a Beatriz, revelou-se como o Bem, todo o Bem, o sumo Bem, sua riqueza plena (LD 3). Queridas irmãs, vivam centradas nele, com o coração voltado para o Esposo. Amem-no de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças (cf. Dt 6,5). Que nada as separe dele: nem a saúde nem a enfermidade, nem a alegria nem a tristeza, nem o trabalho nem qualquer outra preocupação. Em todo o tempo, em todo o lugar, em qualquer situação, sejam do Senhor e para o Senhor. Por isso, vocês foram chamadas a uma forma de vida que tem como centro a contemplação do rosto do Senhor. Contemplem seu rosto e, assim, quem se aproximar de vocês verá a ele (cf. Jo 12,21). Sensíveis ao impulso do Espírito e abandonadas filialmente no coração do Pai, deixem-se possuir totalmente pelo divino Amado. Sejam mulheres contemplativas, e o Senhor encherá seu coração de uma paz e de uma alegria que ninguém lhes poderá roubar.
Vivam intensamente a vida fraterna em comunidade
Vocês são irmãs. Vivam e se manifestem como irmãs-em-relação. O Senhor as chamou a viver uma vida fraterna em comunidade. Por isso, vivam voltadas umas para as outras, em reciprocidade fraterna. Nutram diariamente sua vida fraterna pela caridade de umas para com as outras, pelo diálogo constante e pela comunicação profunda que nasce do silêncio habitado por ele e pela escuta atenta e respeitosa da irmã que o Senhor lhes deu. Aproveitem, queridas irmãs, todas as ocasiões para se encontrarem umas com as outras e para partilhar entre si os dons que o Senhor derramou sobre cada uma de vocês. Somente assim poderão crescer juntas. E já que cada realidade cristã se constrói sobre a debilidade humana, e a comunidade ideal perfeita ainda não existe (cf. Vida Fraterna em Comunidade, 26), especializem-se em construir a fraternidade com gestos e ritos de perdão e de reconciliação entre si, sempre que for necessário. Sejam mulheres de relações sadias, autênticas e profundas.
Em fidelidade criativa
Este é o convite que a Igreja dirige a todos nós: responder à nossa vocação e missão em fidelidade criativa. Fidelidade ao que prometemos pela profissão, criatividade para responder aos sinais dos tempos (cf. Lc 12,56), fachos de luz na noite escura de nossa vida e de nosso tempo, faróis de luz através dos quais o Senhor nos fala e se revela a nós, para assim nos convertermos em sinais legíveis para um mundo sedento de um novo céu e de uma nova terra (Ap 21,1). Abram os olhos da fé e da esperança para detectar, em meio a tantas crises e sinais de morte, a presença do Senhor em nosso meio. Para isso, acolham a inspiração do Espírito, de modo que possam examinar tudo e ficar com o que é bom (1Ts 5,21), distinguindo sempre o que vem do Espírito e o que lhe é contrário (VC 73). Sejam mulheres em constante discernimento e sua vida e carisma conservarão o frescor de suas origens. Sejam mulheres fiéis e criativas.
Em formação permanente e inicial
Na formação, colocamos tudo em jogo: o presente e o futuro, a importância de nossa vida e missão e, portanto, nossa própria razão de ser na Igreja e no mundo. Formar-se não é um luxo, mas uma questão de fidelidade.
Se formar é transmitir uma forma de vida, devemos pôr especial interesse na formação permanente, pois sem ela é impossível falar de verdadeira formação inicial. Ninguém pode comunicar aquilo que não vive, aquilo que não é. Pois bem, se por formação permanente entendemos uma caminhada de conversão, como indicam os documentos da Igreja, não é de estranhar o que diz o documento Vida Consagrada: “A formação permanente, tanto para os Institutos de vida apostólica como para os de vida contemplativa, é uma exigência intrínseca da consagração religiosas [...] A pessoa consagrada jamais poderá supor que contemplou a gestação do homem novo que experimentou dentro de si, nem de possuir em cada circunstância da vida os mesmos sentimentos de Cristo”. E ainda: “Ninguém pode estar isento de aplicar-se ao próprio crescimento humano e religioso...” (VC 69).
A formação é uma caminhada que nunca acaba (cf. VC 65), e que encontra seu lugar privilegiado na vida de cada dia, particularmente no contexto da fraternidade. Tudo o que vocês realizam, queridas irmãs, deve ser visto como mediação para a formação permanente: a oração, a convivência fraterna, o recreio... Vejam tudo a partir de uma perspectiva de formação e tudo terá sentido novo. Sejam mulheres em processo de formação permanente.
Pela mão da Palavra
Há pouco tempo iniciamos o Ano paulino, proposto por sua Santidade Bento XVI para comemorar o bi-milenário do nascimento do Apóstolo das gentes. Por outro lado, logo mais será celebrado o Sínodo dos Bispos, que tem como tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.
Nesse contexto, queridas irmãs, convido-as a fazer da Palavra, junto com a Eucaristia, seu alimento diário. Servindo-me das palavras de Santo Agostinho, convido-as a escutar a Palavra, conceber a Palavra e dar à luz a Palavra com suas boas obras. E para isso, seja a leitura orante da Palavra um momento forte da vida de suas fraternidades. Não se cansem de freqüentar a escola da Palavra e de beber constantemente deste manancial. Somente assim sua sede de plenitude será definitivamente saciada e sua vida converter-se-á em mensagem para o homem e a mulher de hoje. Sejam mulheres da Palavra e serão mulheres evangélicas, como queria Francisco e Beatriz.
****************
Queridas Irmãs Concepcionistas: Antes de invocar sobre vocês a bênção do Altíssimo com as palavras de Francisco, desejo manifestar-lhes minha proximidade e fazer-lhes chegar minha sincera e fraterna felicitação por ocasião da festa da enamorada da Imaculada: Santa Beatriz da Silva.
“Que o Senhor as abençoe e as guarde sempre”
Seu irmão e servo,
Fr. José Rodríguez Carballo, ofm
Ministro geral
Roma, 1º de julho de 2008
Prot. 099125
Ainda está muito viva em meu coração a lembrança do encontro que tivemos em Toledo, de 24 de maio a 4 de junho deste ano. Quantas vezes me senti na obrigação de agradecer ao Senhor a graça desse encontro, durante e depois de sua celebração! Quantas vezes brotou e ainda brota em meu coração e em meus lábios um canto de louvor ao Altíssimo e bom Senhor pelo dom das Irmãs Concepcionistas Franciscanas!
Recordando aqueles dias, posso dizer que, para mim, o encontro de Toledo foi sobretudo uma experiência de alegre fraternidade e de profunda comunhão entre as irmãs, mas também entre as irmãs e os irmãos e, por isso, entre as duas Ordens irmãs: a Ordem dos Frades Menores e a Ordem da Imaculada Conceição. Realmente, experimentamos a graça da unidade na diversidade. Foi também um momento de reflexão e de estudo sobre temas muito importantes para nossa vida, como a formação, inicial e permanente, a contemplação e a missão. Por isso, para mim e, certamente, para vocês também, o encontro foi um tempo forte de formação permanente. Por fim, o encontro foi uma celebração de ação de graças ao Pai pelo dom de Maria, Imaculada em sua Conceição, pelo dom de Francisco e de Beatriz e pelo dom de nossa vocação como Irmãos Menores e Irmãs Concepcionistas. Como foi bom sentir-nos irmãos e irmãs, não só por motivos históricos e de recíproco afeto, mas sobretudo em Maria Imaculada, que os Mestres franciscanos defenderam nas cátedras e propagaram através de seus escritos e dos púlpitos, e que vocês, queridas irmãs, querem cantar e celebrar com sua vida, toda ela a serviço daquela que Francisco canta como palácio, veste e tabernáculo de Deus e que teve e tem a plenitude da graça e todo o bem (cf. SM 3-4). Pelo encontro e por todos os que o tornaram possível, alegro-me no Senhor (Is 61,10).
Aproveitando agora a ocasião que me oferece a festa litúrgica de Santa Beatriz da Silva, desejo manifestar-lhes, mais uma vez, minha proximidade fraterna e, já que me pediram, através desta Carta, quero tornar-me presente em sua caminhada de fidelidade criativa, recordando-lhes algumas prioridades que devem ter presente em sua vida de contemplativas franciscanas.
Em suas vidas, dêem prioridade absoluta ao Senhor
O Senhor entrou em suas vidas e roubou-lhes o coração, como o esposo do Cântico dos Cânticos roubou o coração da esposa. Desde então, vocês já não se pertencem. Mendicantes de sentido, também vocês se puseram a caminho para buscar a plenitude. Então o Senhor deixou-se encontrar por vocês e, como para a Samaritana, mostrou-lhes que somente ele pode saciar sua sede e, como a Francisco e também a Beatriz, revelou-se como o Bem, todo o Bem, o sumo Bem, sua riqueza plena (LD 3). Queridas irmãs, vivam centradas nele, com o coração voltado para o Esposo. Amem-no de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças (cf. Dt 6,5). Que nada as separe dele: nem a saúde nem a enfermidade, nem a alegria nem a tristeza, nem o trabalho nem qualquer outra preocupação. Em todo o tempo, em todo o lugar, em qualquer situação, sejam do Senhor e para o Senhor. Por isso, vocês foram chamadas a uma forma de vida que tem como centro a contemplação do rosto do Senhor. Contemplem seu rosto e, assim, quem se aproximar de vocês verá a ele (cf. Jo 12,21). Sensíveis ao impulso do Espírito e abandonadas filialmente no coração do Pai, deixem-se possuir totalmente pelo divino Amado. Sejam mulheres contemplativas, e o Senhor encherá seu coração de uma paz e de uma alegria que ninguém lhes poderá roubar.
Vivam intensamente a vida fraterna em comunidade
Vocês são irmãs. Vivam e se manifestem como irmãs-em-relação. O Senhor as chamou a viver uma vida fraterna em comunidade. Por isso, vivam voltadas umas para as outras, em reciprocidade fraterna. Nutram diariamente sua vida fraterna pela caridade de umas para com as outras, pelo diálogo constante e pela comunicação profunda que nasce do silêncio habitado por ele e pela escuta atenta e respeitosa da irmã que o Senhor lhes deu. Aproveitem, queridas irmãs, todas as ocasiões para se encontrarem umas com as outras e para partilhar entre si os dons que o Senhor derramou sobre cada uma de vocês. Somente assim poderão crescer juntas. E já que cada realidade cristã se constrói sobre a debilidade humana, e a comunidade ideal perfeita ainda não existe (cf. Vida Fraterna em Comunidade, 26), especializem-se em construir a fraternidade com gestos e ritos de perdão e de reconciliação entre si, sempre que for necessário. Sejam mulheres de relações sadias, autênticas e profundas.
Em fidelidade criativa
Este é o convite que a Igreja dirige a todos nós: responder à nossa vocação e missão em fidelidade criativa. Fidelidade ao que prometemos pela profissão, criatividade para responder aos sinais dos tempos (cf. Lc 12,56), fachos de luz na noite escura de nossa vida e de nosso tempo, faróis de luz através dos quais o Senhor nos fala e se revela a nós, para assim nos convertermos em sinais legíveis para um mundo sedento de um novo céu e de uma nova terra (Ap 21,1). Abram os olhos da fé e da esperança para detectar, em meio a tantas crises e sinais de morte, a presença do Senhor em nosso meio. Para isso, acolham a inspiração do Espírito, de modo que possam examinar tudo e ficar com o que é bom (1Ts 5,21), distinguindo sempre o que vem do Espírito e o que lhe é contrário (VC 73). Sejam mulheres em constante discernimento e sua vida e carisma conservarão o frescor de suas origens. Sejam mulheres fiéis e criativas.
Em formação permanente e inicial
Na formação, colocamos tudo em jogo: o presente e o futuro, a importância de nossa vida e missão e, portanto, nossa própria razão de ser na Igreja e no mundo. Formar-se não é um luxo, mas uma questão de fidelidade.
Se formar é transmitir uma forma de vida, devemos pôr especial interesse na formação permanente, pois sem ela é impossível falar de verdadeira formação inicial. Ninguém pode comunicar aquilo que não vive, aquilo que não é. Pois bem, se por formação permanente entendemos uma caminhada de conversão, como indicam os documentos da Igreja, não é de estranhar o que diz o documento Vida Consagrada: “A formação permanente, tanto para os Institutos de vida apostólica como para os de vida contemplativa, é uma exigência intrínseca da consagração religiosas [...] A pessoa consagrada jamais poderá supor que contemplou a gestação do homem novo que experimentou dentro de si, nem de possuir em cada circunstância da vida os mesmos sentimentos de Cristo”. E ainda: “Ninguém pode estar isento de aplicar-se ao próprio crescimento humano e religioso...” (VC 69).
A formação é uma caminhada que nunca acaba (cf. VC 65), e que encontra seu lugar privilegiado na vida de cada dia, particularmente no contexto da fraternidade. Tudo o que vocês realizam, queridas irmãs, deve ser visto como mediação para a formação permanente: a oração, a convivência fraterna, o recreio... Vejam tudo a partir de uma perspectiva de formação e tudo terá sentido novo. Sejam mulheres em processo de formação permanente.
Pela mão da Palavra
Há pouco tempo iniciamos o Ano paulino, proposto por sua Santidade Bento XVI para comemorar o bi-milenário do nascimento do Apóstolo das gentes. Por outro lado, logo mais será celebrado o Sínodo dos Bispos, que tem como tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.
Nesse contexto, queridas irmãs, convido-as a fazer da Palavra, junto com a Eucaristia, seu alimento diário. Servindo-me das palavras de Santo Agostinho, convido-as a escutar a Palavra, conceber a Palavra e dar à luz a Palavra com suas boas obras. E para isso, seja a leitura orante da Palavra um momento forte da vida de suas fraternidades. Não se cansem de freqüentar a escola da Palavra e de beber constantemente deste manancial. Somente assim sua sede de plenitude será definitivamente saciada e sua vida converter-se-á em mensagem para o homem e a mulher de hoje. Sejam mulheres da Palavra e serão mulheres evangélicas, como queria Francisco e Beatriz.
****************
Queridas Irmãs Concepcionistas: Antes de invocar sobre vocês a bênção do Altíssimo com as palavras de Francisco, desejo manifestar-lhes minha proximidade e fazer-lhes chegar minha sincera e fraterna felicitação por ocasião da festa da enamorada da Imaculada: Santa Beatriz da Silva.
“Que o Senhor as abençoe e as guarde sempre”
Seu irmão e servo,
Fr. José Rodríguez Carballo, ofm
Ministro geral
Roma, 1º de julho de 2008
Prot. 099125